Trinta e três a fazer isto desde os quinze
que eu não disse ao padre, disse aos versos
e a primeira vez que eu a recebi
deu para pagar a bandeia a conta ficar a zero
ainda era novidade,
era o que eles diziam para me pagar menos
e os homens da minha idade cantavam há menos tempo
nasci numa cidade onde não basta ter talento
é preciso fazer charme, focar e ajustar a lente
a minha agência diz que não sou o sabor do momento
eu rio por ironia, não por graça
é que eu estou aqui há tanto tempo
não sou um medalhador, eu sou prata da casa
abri caminho com as mãos,
levei tijolos na mochila
não me assusta a sensação,
elas são todas minhas filhas
tiveste um bom verão,
prepara bem as noites frias
para não virares um refrão que alguém decorou um dia
não é a arrogância, é a constatação
mas eu estou bem se me achares arrogante
andei a fazer das tripas coração
tu fizeste uma canção igual às da Deslandes a
influência notória nem me dão os parabéns não
dás a mão à palmatória então eu vou explicar bem
influência não é cópia,
eu não copia ninguém mas o que é a
vossa forma é a forma que eu inventei
eu já tinha as costas largas antes de ser mãe é que eu era miúda e
já vestia a camisola por isso sem direito às costas e senta-te bem
não vieste ao meu show,
tu vieste à escola franzou-se por olho mas
ajeita a gola e tem maneiras com a tua madrinha
a cantiga é uma arma pega na pistola por
isso é que a florbela espanca e não a carinha
eu tinha tanta coisa para escrever porque
a palavra dita um dia leva ao vento
agora tenho menos medo de morrer não
sou imortal mas deixo um testamento
o meu nome é Carolina
é sempre um prazer
muito obrigada