Gozo cegaro, momento em suas vidas
Em que a paixão se torna amizade
Para depois virar educação
Em que Tom Jobim e Vinícius de Moraes
Viram que de abelha
Em que eu sei que vou te amar
Vira o nosso amor, se transformou em bom dia
Em que a sua identidade de amante
É convertida em ser pai ou mãe de alguém
Pode chegar o momento em suas vidas
Em que o sexo se torna burocrático
Como um ponto a ser batido, um dever a ser agendado
Em que qualquer coisa é motivo pra dizer não
Como se precisasse de algo pra dizer não
Ou quando não quero, não pode, não faço, não vou
Se tornam mais comuns do que o eu te amo
Pode chegar o momento em suas vidas
Em que não há mais nada
Não há mais gota d'água a esperar
Pois o cálice já transbordou há muito
Em que o silêncio é menos constrangedor
Do que ouvir a voz doente antes amável
Em que a ansiedade de conhecer o outro
É substituída pelo marasmo absurdo
Da convivência com falta de assunto
Pode chegar o momento em suas vidas
Em que o resgate dos sentimentos de outrora
É visto como uma chateia de amor
De seu perda de tempo
Em que as lembranças de momentos felizes
São vistas como um mico de um passado distante
Em que a tentativa de diálogo é interrompida
Por um bocejo ou por um olhar no infinito
Em que se percebe que o desrespeito tem perdão
Mas a monotonia não tem solução
Pode chegar o momento em suas vidas
Em que se discute compatibilização de horários
Como se o que se tornou um já tivesse desviado
Em que o trabalho dá prazer e o prazer dá trabalho
Onde o estresse é preferível a companhia do outro
Em que vale a pena se submeter voluntariamente
A um instrumento de tortura medieval
Em que passar a vida esperando a morte
Não soa assim tão mal
Pode chegar o momento em suas vidas
Em que a promessa não consegue mais prevalecer
Em que a experiência derrota a esperança
Em que não faz mais sentido permanecer
Em que a esperança não faz mais sentido permanecer
Em que não há mais nada a fazer
Se não tomar o remédio amargo
Na agonia que o veneno feche
E cicatrise a ferida
Em vez de provavelmente matar o paciente
Pode chegar o momento em suas vidas
Em que não há mais gota d'água a esperar
Pois o cálice já transbordou há muito
Em que o silêncio é menos constrangedor
Do que ouvir a voz doente antes amado
Em que a ansiedade de conhecer o outro
É substituída pelo marasmo absurdo
Da convivência com falta de assunto
Da convivência com falta de amanto
Pode chegar o momento em suas vidas