Em marchas lentas e estropiadas
Aos sulavancos pelas estradas
Cheios de andrajos e de lazeira
De monte a monte, de feira em feira
Sob as fascas do sol ardente
Vo os ciganos tranquilamente
Vo em magotes, em caravanas
Por entre as choas e as arribanas
Pelas charnecas, pelos balados
Olhos em fogo, rostos tisnados
Magros fantasmas da vida errante
Quando eles surgem, perto ou distante
Por toda a parte se erguem clamores
Rogam-lhes pragas os lavradores
E contra o bando, roto e esfaimado
Ladram e investem os ces legados
Mas os ciganos so mais mateiros
Que os lavradores, que os rafeiros
Raa dispersa de maltrablios
Passam com bestas, filhas e filhos
Suportam pragas, chufas, maus tratos
Sofrem insultos e desacatos
Imploram jane, fingem-se doentes
Tm artimanhas, expedientes
At que ao termo de tais canseiras
A assombrantinha das azinheiras
Encontram sempre paz e repouso
Sob ampla beno do cu piedoso
dura a terra que vo pisando
Sem ter revoltas de quando em quando
Nas incertezas do ramo vago
Contra as agruras do seu fadaru
Almas sem crenas, quem dais toa
Sem ter no mundo quem se condoa
Da vossa sorte, rude e mesquinha
Que ideal, que sonho vos encaminha
De que pases do extremo oriente
Vim destrazidos pela corrente
Da mais sombria fatalidade
De qual , ciganos, a vossa idade?
Ningum o sabe, nem vs sabeis
De onde que vindas, de onde que ireis?