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Em setembro veio o equinócio
Vieram marés vivas, ventanias, nevoeiros, chuvas, temporais
As marés altas varriam a praia e subiam até à duna
Certa noite as ondas gritaram tanto, uivaram tanto
Bateram e quebraram-se com tanta força na praia
Que no seu quarto caiado da casa branca
O rapazinho esteve até altas horas sem dormir
As portadas das janelas batiam
As madeiras do chão estalavam como madeiras de mastros
Parecia que as ondas iam cercar a casa
E que o mar ia devorar o mundo
E o rapazito pensava que lá fora, na escuridão da noite
Se tratava de uma imensa batalha
Em que o mar, o céu e o vento se combatiam
Mas por fim, cansado de escutar
Adormeceu embalado pelo temporal
De manhã, quando acordou, estava tudo calmo
A batalha tinha acabado
Já não se ouviam gemidos do vento, nem gritos do mar
Mas só um doce murmúrio de ondas pequeninas
E o rapazinho saltou da cama, foi à janela
E viu uma manhã linda de sol brilhante, céu azul e mar azul
Estava maré vaza
Pôs o fato de bem e foi a correr para a praia
E o rapazinho, quando acordou, estava tudo calmo
Tudo estava tão calmo e sossegado
Que ele pensou que o temporal da véspera tinha sido um sonho
Mas não tinha sido um sonho