Dentro da margem de dentro, na raiz e no lamento,
guarda-vento e ribanceira, margem de certa maneira,
de fazer uma viagem, de ultrapassar a barreira,
fazer do vento poeira, da ribanceira barragem.
Fora da margem de dentro, entre o caule e o lamento,
há sempre um pequeno espaço entre movimento e passo,
entre passo e movimento, a corda que faz o laço,
a força que faz o braço acordar o pensamento.
Escorrego na lama o meu passado, o meu passado presente,
mas não fico na lama, entorpeado, ou ao fundo da lama,
do outro lado, do outro lado da mente,
do outro lado da gente, do outro lado,
do outro lado da gente que vive de frente,
da gente que vive o futuro presente.
Fora da margem de fora, fica a sombra e a demora,
a voz do vento é mudança, muda o escudo, fica a lança,
sem medida para agora, saltam pulgas na balança,
para o vento vira a dança, no espaço de uma hora.
Dentro da margem de fora, não há sombra na demora,
estatelada na história, fica a margem divisória,
e no meio da viagem, a voz do vento é memória,
de acreditar na vitória, de lamentar a barragem.
Escorregas na lama do teu passado, do teu passado presente,
mas não ficas na lama, esnorteado,
vais ao fundo da lama, do outro lado,
do outro lado da mente, do outro lado da gente,
do outro lado da gente, do outro lado,
do outro lado da gente que vive de frente,
da gente que vive o futuro presente.