Se os animais falassem, ouviríamos agora o depoimento de um boi que matou um toureiro para salvar sua própria vida.Eu fui laçado e arrastado da capoeira e foi de qualquer maneira me jogaram na prisão.Ajoelhado, implorava nessa hora, amarrado na gaiola como se fosse um ladrão.Mas eu confesso aos senhores jurados, tentei pular o alambrado e fugir pro estradão.Mas nessa hora pelos homens fui barrado, veja meu corpo marcado por pantalhão.E lá na arena, neste beco sem saída, para não perder a vida, triste luta enfrentei.Todo aplauso era pro meu inimigo, temendo grande perigo, desesperado chorei.Mas não sabia...O toureiro desumano, que em defesa dos rebanhos, muitas feras derrotei.Oh minha alma, envolvida na tristeza, em legítima defesa, para não morrer, matei.Li da sentença, se diga o bem da verdade.Me foi dada a liberdade, de voltar ao meu rincão.Na despedida, eu disse quando partia, sei que vou morrer um dia, por capricho do patrão.Então serei, retalhado em pedacinhos, pra alimentar seus filhinhos, no recheio de seu pão.A minha carne, lhe darei a vida.Estarei, neste momento, em forma de pagamento, da minha absolvição.