Já foi o cais do Cedré,
dos bares das prostitutas,
do mercado da ribeira,
do peixe fresco, das frutas,
de quem labuta ao serão,
na indústria da miséria,
da candonga do Japão,
gente má,
gente séria.
Já foi
o cais do Cedré,
do sectador, do polícia,
do marinheiro estrangeiro,
da facada e da carícia,
da prostituta esquisita,
que só quer gente de fora,
que ao domingo vai à missa e é senhora,
e é senhora onde mora.
Já foi o cais do Cedré,
gente de bem, quem diria,
meia de leite ou café,
começo de mais um dia,
o cacilheiro a chegar,
com o pessoal que trabalha,
mais uma noite
a acabar,
mais um lençol
ou mortalha.
Já foi
o cais do Cedré,
hoje vai até Belém,
gente má e gente séria,
gente que tem e
não tem.
Já foi o cais do Cedré,
da candonga do Japão,
o Japão ainda é o mesmo,
mas
a candonga,
mas a candonga já não.