Nhạc sĩ: Carlos Paredes
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Eu espero que...
Eu espero que me desculpem.
Vim para aqui tão descontraído
que acabei por fazer aqui uma atrapalhada tremenda,
com o prejuízo de minha acompanhadora,
que é uma extraordinária acompanhadora,
extraordinária solista,
como terão ocasião de ouvir.
Porque...
E como todas as guitarristas clássicas,
toca por música.
Aliás,
é uma qualidade que infelizmente não
pode expandir-se muito no nosso país.
São poucas as pessoas que sabem música.
Até é curioso que estive numa ocasião com um cantor francês,
durante uma excursão que fiz à América Latina.
Esse cantor andou sempre comigo.
E disse-me a certa altura, isto no avião,
eu sou professor,
ensino harmonia,
ensino música,
ensino som feijo,
etc.
E eu perguntei-lhe se tinha curso,
um curso especial.
Não,
eu aprendi em casa e estou há por cheio a ensinar.
A princípio pensei que era um aldrabão.
Mas depois reconheci que uma educação musical devidamente divulgada
acabaria por fazer com que as pessoas não sentissem,
como sucede até com
a maioria das pessoas,
não sentissem-se um bocado estranhas quando olham para uma partitura.
O sujeito me ensinava harmonia com maior dos avontados,
exatamente como nós,
que sabemos ler e escrever,
podemos ensinar sem sermos professores a ler e escrever,
seja quem for.
Mas ela...
Normalmente os guitarristas,
os violistas que acompanham guitarra,
tocam no ouvido.
Isso dá-lhes a vantagem de poderem,
sem qualquer problema,
mudar de composição conforme o solista muda também.
Mas devo-vos dizer que é um caso
extraordinário o facto de estar aqui,
Luís Amaro,
a acompanhar-me.
Suponho que é uma forma de destruir de uma vez para sempre
o conceito de que as mulheres não podem tocar a guitarra,
não podem tocar o fado,
não podem acompanhar...
Não podem acompanhar...
É uma injustiça e é um profundo erro até do ponto de vista cultural.
Devo dizer que no campo da música,
a mulher,
por exemplo,
que até certa fase da história nunca...
Nunca foi profissional,
musicalmente.
Aliás,
os profissionais da música aí nos séculos XVI
eram só aqueles que tinham de carregar
com instrumentos muito pesados.
Esses sim,
tinham de ser mesmo profissionais,
porque ninguém estava disposto a isso.
Eram aquelas fanfarras que apareciam nas festas,
nas grandes festas.
De maneira que eram quase todos amadores.
Mas estou convencido,
e aliás,
dar-nos conta disso,
a quantidade enorme de quadros do passado
onde só figuram mulheres a tocar instrumentos,
principalmente até instrumentos deste tipo.
Mas, não há dúvidas nenhuma, pela lógica,
a execução, o estilo de todos estes instrumentos
está muito marcado pela própria capacidade
da mulher para tocar esses instrumentos.
Ela deve ter marcado muito do estilo,
sobretudo da guitarra.
Ainda há pouco estive nos Estados Unidos e
queriam-me apresentar uma senhora de 90 anos,
a Soriana, que tocava guitarra.
Infelizmente a senhora estava doente
e eu acabei por não poder ouvi-la.
Mas perguntei à filha como é que ela tocava.
Ela deu-me uma ideia de que a senhora tocava por glissando.
Fazia chorar a guitarra.
Era talvez,
foi no princípio do século,
que ainda havia muitas senhoras idosas que tocavam guitarra.
Isso surpreendia as pessoas quando ouviam falar disso.
Mulheres a tocarem guitarra.
Eu mesmo, no meu estilo,
na minha forma de tocar,
fatalmente estou marcado pela contribuição
que a mulher deu para a execução da guitarra.
Porque não há ninguém que seja tão original,
que possa desfazer-se de toda a herança,
toda a herança que veio até às suas mãos.
Mas vou então tocar agora o tema do filme
Verdes Anos e as respectivas variações.