Seria um sonho, suponho que sim
Ao longe na neva, a rua, a casa
O homem do pão,
o cão a ladrar
A mãe ao portão, vai-me chamar
O pai vai chegar, já vem, sem gravata
Apaga o cigarro e eu corro para o carro Sorri-me e buzina,
chama-me menina
Acena a vizinha e pega-me na mão E havia o peão,
girava e girava
E redupiava e caía no chão E a bicicleta com rodinhas de lado
E depois a queda dos joelhos folado
Foi há tanto,
tanto,
tanto,
tanto,
tanto,
tanto tempo
Foi no tempo do encanto,
do espanto,
do momento Que eu queria tanto,
tanto,
tanto,
tanto outra vez
A idade dos porquês que é feito
Era verão todo o dia,
se a noite caía Vinham fadas das nuvens ver se eu dormia
Que é feito do júlio da marciaria Que é da afonsina e da vesga da tia
Que é de um cabrito que a avó ia matar
E eu fugi com o bicho só para o salvar
Escondi o caderno com o cotovelo Não fosse a Marília querer copiar
Que é das fogueiras pelo São João E do vestido da primeira comunhão
Jogar a macaca à chuva de março E ouvir o compasso da procissão
Foi há tanto,
tanto,
tanto,
tanto,
tanto tempo Foi no tempo do encanto,
do espanto,
do momento
Que eu queria tanto,
tanto,
tanto,
tanto outra vez
A idade dos porquês que é feito
A idade dos porquês que é feito
Nesse tempo