É companheiro, aqui estou, aqui estou para te falar
Estas paredes me tolhem os passos que quero dar
Uma é feita de granito, não se pode arrebentar
Outra de vidro rachado para as duas pernas cortar
É companheiro, resposta, resposta te quero dar
Só tem medo desses muros, quem tem muros no pensar
Todos sabemos do pássaro que há dentro a querer voar
Se o pensamento for livre, todos vamos libertar
Lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá
É companheiro, eu falo, eu falo do coração
Já me acostumei à cor desta negra solidão
Já o preto que vai bem, já o branco ainda não
Não sei quando vem o vento para me levar de avião
É companheiro, respondo, respondo do coração
Ser sozinho não ensina nem derrata o depurão
Faz também soplar o vento, não esperas o torrão
Põe sementes do teu peito nos bolsos do teu irmão
Lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá
É companheiro, vou falar, vou falar do meu parecer
Vira o vento, muda a sorte, toda a vida ouvi dizer
Sopro muita ventania, não vi a sorte crescer
Meu destino é sempre o mesmo, desde moço até morrer
É companheiro, aqui estou, aqui estou para responder
Sorte assim não cresce à boa como a ortiga por colher
Cresce nas vinhas do povo, leva tempo a amadurecer
Quando mudar seu destino está o alcance do viver
Lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá
É companheiro, aqui estou, aqui estou para-te falar
De toda a parte me chatam, não sei por onde me virar
Uns que trazem fechaduras com portas para espreitar
Outros que em nome da paz não me deixam nem olhar
É companheiro, resposta, resposta te quero dar
Portas assim foram feitas para se abrir de par em par
Não confundas duas coisas, cada paz em seu lugar
Pela paz que nos recusam, muito temos que lutar
Lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá
Lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá
Lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá
Lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá
Lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá
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