Cantositor,
substantivo criado a partir de um neologismo que eu inventei
para designar pessoa que canta e compõe canções.
Pode ser flexionado no masculino,
feminino ou em gênero neutro
para incluir pessoas trans,
travestis,
não binárias,
queers
e quaisquer identidades de gênero que
venham a emergir no cenário político.
Cantositor é sinônimo de canta-autor, mas,
embora sejam sinônimos,
isso não implica que signifiquem exatamente a mesma coisa,
tipo alegria e felicidade,
prazer e gozo,
tristeza e melancolia.
São palavras sinônimas,
mas que,
contextualmente,
podem acrescentar camadas de significação
variadas dependendo de sua aplicação.
Cantositor e canta-autor são assim,
palavras sinônimas que resguardam sutis diferenças.
Repare bem.
Tente imaginar a representação gráfica
de cada palavra à medida que me escuta.
Na palavra canta-autor,
a letra A,
que finaliza o verbo canta,
é a mesma letra que inicia a palavra autor.
Interpreto esse encontro de palavras através do A como
uma fusão perfeita entre o canto e a autoria das canções.
O cantor está perfeitamente fundido ao autor,
indicando que,
além de serem duas atividades indissociáveis,
ocupam o mesmo grau de importância.
Agora,
imagine a representação gráfica da palavra cantositor.
A fusão do canto à composição ocorre de modo que a
atividade de cantar se sobrepõe à atividade de compor,
ganhando mais destaque,
sobressaindo o ato de cantar conjugado na primeira
pessoa do singular no presente do indicativo.
Eu canto.
Na palavra cantositor,
a composição aparece como uma espécie de
sufixo que não é perfeitamente identificável.
Esse sufixo,
zitor,
poderia ser oriundo de palavras como repositor,
opositor ou outras semelhantes.
Mas não.
Trata-se de um sufixo que deriva do substantivo compositor,
que aparece como um apêndice,
um detalhe que indica um cantor que
compõe e não um compositor que canta.
É exatamente assim que me defino.
Sou um cantor que compõe e não um compositor que canta.
Em geral,
os cantautores estão muito associados a instrumentos
musicais harmônicos para acompanharem suas próprias vozes.
Como cantositor,
abdico de tocar instrumentos musicais como uma tarefa
artística pública e obrigatória associada a mim.
Prefiro utilizar os instrumentos musicais apenas para compor,
como uma ferramenta de composição quando estou em casa,
sozinho,
montando os quebra-cabeças que são,
via de regra,
as harmonias musicais.
Porque meu real instrumento é a voz.
É para ela que componho.
E gosto de me apresentar para as pessoas assim,
nu,
com a minha voz,
como um cantor que sou.
E é assim que me reconheço em pleno ano de 2022.
Mas o melhor das definições identitárias é que elas são,
podem e devem ser transitórias, mutáveis,
como todos os seres humanos.