Dona Nina,
conta pra gente a história da cabra cabriola.
Precisa não.
É melhor a gente ficar só cantando mesmo.
Mala assombrado eu, mala assombrado ele.
Tem quem diga que é conversa minha.
Tem quem não me acredite.
Mas estava eu na minha casa,
na minha cadeirinha de balanço,
quando escutei, lá longe, o
show do menino.
Eu até pensei que era um dos filhos de um pagnozinho,
mas o negócio não parava, não
parava, não parava.
Vixe Maria, Bil,
que barulheira danada é essa?
São os ossos batendo de medo.
É porque eu fico com medo da cabra cabriola
ter pegado você e ter levado embora.
Mas tu não estás vendo eu aqui,
mesmo aqui na tua frente.
Como é que a cabra havia de ter me levado?
Verdade.
É que o medo às vezes me tira a inteligência.
Então só vive com medo ele, né?
Como é?
Eu fui lá fora eu.
Eu não sou curiosa não, viu vocês aí.
Mas eu tinha que olhar.
Aí eu vi foi uma fumacinha lá em cima da serra.
Eu até pensei que era o fogo corredor.
Aí eu saí bem devagarzinho, na pontinha do pé.
Quanto mais eu ia chegando,
mais o fogo ia aumentando.
E apareceu, foi uma luz.
Eu vi um chifre por cima da luz.
Aí eu pensei,
oxente,
e eu deixei o curral aberto.
Mas o chifre veio se aproximando,
veio se aproximando ligeiro.
Minha gente, o que eu...
De novo, viu?
Oh, rapaz, como é esse medroso da gota?
E
vocês estão com medo?
Vocês aí escutando, estão com medo?
Estão com medo de nada,
que eu ainda não descobri o que era.
Ah, pois com o fogo saindo dos olhos.
Saindo das orelhas.
Saindo pelas ventas.
Eita!
Era a cabra cabriola.