Mariosinha, fui em Marte a me tornarVou daquilo que fui, pra aquilo que seráFoi há tantos anos, foi há dois mil anos que vi no amor meu CristoQue me mostraste o amor imprevistoQue me falaste na pele e no corpo a sorrirMeus olhos fechados, moldos, espantados te ouviramComo se apagasses a luz do dia ou a luta da classeMeus olhos verdes, ceguinhos de todo para-te servirMariosinha, fui em Marte a me tornarVou daquilo que fui, pra aquilo que seráFilhos e cadilhos, panelas e fundilhosMateste as minhas mãos à obraE encontraste argumentos de sobraPara evitar que o meu corpo pensasse na vidaMeus olhos fechados, modos e cansadosNão viam-se verso-se prosaO meu suor era o teu mar de rosasMeus olhos verdes, janelas de vida fechadas por tiMariosinha, fui em Marte a me tornarVou daquilo que fui, pra aquilo que seráPegas-me na mão e falas do patrão que te paga um salário de fomeDo teu patrão que te rouba o que comeFalas contigo sozinho pra desabafarMeus olhos parados, modos e cansadosNão podem ouvir o que dizesE fico à espera que me socializesMeus olhos verdes, boneca privada do teu bem-estarMariosinha, fui em Marte a me tornarVou daquilo que fui, pra aquilo que seráSou tua criada boa e dedicadaNa praça, na casa e na camaTu só me vês quando vestes pijamaMas não me ouves se digo que quero existirMeus olhos cansados ficam acordados de noite chorando p'esta sorteDe ser escrava para a vida e para a morteMeus olhos verdes, vermelhos de raiva para te servirMariosinha, fui em Marte a me tornarVou daquilo que fui, pra aquilo que seráA tua vontade, justiça e igualdade não chegam dentro da casaEu só te sirvo para a maré vazaMas eu já sinto a minha maré cheia a supirMeus olhos cansados abrem-se explodadosPara a vida de que tu falavasPara combater contra os donos de escravasMeus olhos verdes que te vão falar e que tu vais ouvirMariosinha, fui em Marte a me tornarSei aquilo que fui e que jamais seráMariosinha, fui em Marte a me tornarMariosinha, fui em Marte a me tornarMariosinha, fui em Marte a me tornar