É melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe, é assim como
a luz no coração.
Mas pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza, é preciso um bocado
de tristeza, senão não se faz um samba não.
Senão é como amar uma mulher só linda, e daí?
Uma mulher tem que ter qualquer coisa além da beleza, qualquer coisa triste, qualquer
coisa que chora, qualquer coisa que sente saudade, um molejo de amor machucado, uma
beleza que vem da tristeza de saber mulher, feita apenas para amar, para sofrer pelo seu
amor e pra ser só perdão.
Ser samba não é contar piada, quem faz samba assim não é de nada, o bom samba é uma
forma de oração.
Porque o samba é a tristeza que balança, e a tristeza tem sempre uma esperança, a
tristeza tem sempre uma esperança de um dia não ser mais triste não.
Feito essa gente que anda por aí brincando com a vida, cuidado companheiro, a vida é
pra valer, e não se engane não, tem uma só, duas mesmo que é bom ninguém vai me
dizer que tem sem provar muito bem provado, com certidão passada em cartório do céu
e foi assinado embaixo, Deus, e com firma reconhecida, a vida não é de brincadeira
amigo, a vida é arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida, há sempre uma
mulher a sua espera com os olhos cheios de carinho e as mãos cheias de perdão, põe
um pouco de amor na sua vida, como no seu samba, põe um pouco de amor numa cadência
e vai ver que ninguém no mundo vence a beleza que tem um samba não.
Se hoje o samba nasceu lá na Bahia, e se hoje ele é branco na poesia, se hoje ele
é branco na poesia, ele é negro demais no coração.
Eu por exemplo, o capitão do mato Vinícius de Borás, poeta e diplomata, o branco mais
preto do Brasil, na linha direta de Xangô, Saravá, abenço senhora, a maior ialorixá
da Bahia, terra de Caíba e João Gilberto, abenço Pixinguinha, tu que choraste na flauta
todas as minhas mágoas de amor, abenço senhor, abenço Cartola, abenço Ismael Silva, sua
abenço em todos os prazeres, abenço Nelson Cavaquinho, abenço Geraldo Pereira, abenço
meu bom Ciro Monteiro, você sobrinho de Nonô, abenço Noel, sua abenço Ari, abenço
todos os grandes sambistas do meu Brasil, branco, preto, mulato, lindo como a pele macia
de Oxum, abenço o maestro Antônio Carlos Jobim, parceiro e amigo querido, que já
viajaste tantas canções comigo e ainda há tantas a viajar, abenço Carlinhos Lira,
parceirinho 100%, você que une a ação ao sentimento e ao pensamento, abenço, abenço
abenço o maestro Moacir Santos, que não é só um só, é tantos, tantos como o meu Brasil de
todos os santos, inclusive meu São Sebastião, Saravá, abenço que eu vou partir, eu vou ter
que falar adeus, põe um pouco de amor numa cadência e vai ver que ninguém no mundo vence
porque o samba nasceu lá na Bahia e se hoje ele é branco na poesia, se hoje ele é branco na
poesia, ele é negro demais no coração, porque o samba nasceu lá na Bahia e se hoje ele é branco na
poesia, se hoje ele é branco na poesia, ele é negro demais no coração, ele é negro demais no coração,
ele é negro demais no coração, ele é negro demais no coração.